sexta-feira, 17 de agosto de 2012



Francis Pisani viaja pelo mundo para descobrir o que está sendo feito de inovação tecnológica ao redor do planeta. Com longa experiência na cobertura da área, ele tenta, por exemplo, descobrir se a próxima Apple poderá aparecer na África, na Ásia ou na América Latina. Acompanhe o projeto em francêsespanhol e inglês.

Malásia: ajudar a inovação das empresas sociais


Empreender nem sempre tem como objetivo único o enriquecimento. Algumas das pessoas que se consagram a essa atividade se interessam primordialmente pelos benefícios econômicos, mas número crescente de empreendedores desejam que suas empresas faça sentido, mesmo que o propósito seja o crescimento. Suas companhias podem ser uma fonte de inovações por, além do alcance tecnológico, terem também repercussão social. É esse o tipo de empreitada que o TandemFund.org, de Kuala Lumpur, Malásia, tenta ajudar.
"Nós investimos em empresas sociais que aderem a uma causa -a redução da pobreza, por exemplo-, mas ao mesmo tempo dispõem de uma maneira de gerar faturamento", me explicou Kal Joffres, o diretor da organização. "A missão das empresas deve ser social, e seu modelo de negócios derivado do setor privado", explicou. "Que obtenham ou não lucros, dependerá do mercado".
Trata-se de uma pequena revolução para a Malásia, país no qual a filantropia muitas vezes se limita a doar dinheiro a orfanatos e visitá-los para uma foto uma vez por ano. Financiado por uma fundação ligada a um banco, o Tandem Fund é mais ambicioso. Investe nas áreas da saúde, habitação, moradia e distribuição aos setores mais necessitados.
"Contentamo-nos com retornos inferiores à rentabilidade comercial, para os investimentos, o que chamamos de 'capital paciente'", acrescenta Joffres. Assim, o fundo se baseia em modelos menos conhecidos como a "dívida de risco", empréstimos para investimentos de capital em empresas iniciantes. Também pratica o conceito islâmico do compartilhamento de benefícios.
Entre as empresas que o fundo auxilia está a SOLS 24/7, que ensina inglês a jovens asiáticos desfavorecidos, cobrando as aulas apenas daqueles que vivem em países ricos como o Japão; uma companhia que recicla computadores antes de oferecê-los gratuitamente a organizações sociais; e a WeDesignChange.com, cujos designers trabalham voluntariamente para ajudar artesãos rurais a "elevar o valor de seus produtos sem aumentar os custos de produção".
Mas o dinheiro não resolve tudo e o Tandem Fund criou a Tandemic.com, que opera como consultora de empresas sociais. Um de seus modos de ação favoritos, adaptado de ideias praticadas em outros sites, consiste em realizar reuniões intensivas nos finais de semana. O Hack.Weekend.my se dedica a desenvolver programas, por exemplo um aplicativo para compartilhar carros entre amigos, dirigido a pessoas que não gostam de pegar carona com desconhecidos.
Os MakeWeekends estão reservados à primeira tentativa de materializar ideias mais ou menos elaboradas, audazes, loucas. "O final de semana permite que deixemos o trabalho de lado", disse Joffres. "Os jovens vêm para criar rapidamente protótipos de uma ideia, seja qual for. Nós nos ocupamos do modelo de negócios. Assim que o protótipo está pronto, eles podem decidir continuar o projeto por sua conta".
Com a ajuda do governo, a Tandemic colabora com o Innobridge, um projeto malásio que permite que estudantes se familiarizem com problemas de empresas. Essas últimas submetem casos por meio de uma plataforma online e os estudantes têm prazo de duas semanas para resolvê-los. Há concursos e recompensas monetárias para aqueles que encontram soluções úteis. As universidades de onde vierem as melhores respostas receberão prêmio do primeiro-ministro no final do ano.
É uma maneira de estabelecer pontos com o setor privado e fomentar o espírito empresarial. "É bom para a imagem das empresas e permitem que entrem em contato com futuros contratados", acrescenta Joffres. "E é excelente para que os estudantes percebam que são capazes de resolver um problema do mundo real e ganhar dinheiro. Isso lhes propicia grande confiança em si mesmos".
Tradução de PAULO MIGLIACCI


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